A obesidade é desenvolvida ao longo de um tempo, a partir de um desequilíbrio de energia. De modo geral, isso acontece quando a energia ingerida pelo corpo por meio de alimentos e bebidas, medida em calorias, é maior do que a energia gasta por ele.1
No entanto, alguns fatores influenciam a forma como o organismo de uma pessoa consome, gasta e armazena energia.2 Saiba como a fisiologia da obesidade pode afetar o tratamento da doença.
Fisiologia da obesidade - fatores genéticos envolvidos no desenvolvimento da doença
Esses fatores genéticos para a obesidade estão associados aos chamados “genes poupadores”. Há milhares de anos, quando a caça era a principal fonte de alimento e não havia formas de armazenar comida, os genes poupadores enviavam ao organismo comandos para acumular o máximo de energia possível para, assim, sobreviver aos tempos de escassez.2
Milênios depois, o acúmulo de energia para sobrevivência passou a ser desnecessário, mas os genes poupadores continuaram a exercer a função de estocar energia, fazendo com que algumas pessoas tenham mais propensão a acumular gordura no corpo e desenvolver obesidade. Os genes poupadores também são os responsáveis pelo ganho de peso logo após dietas rigorosas, pois emite sinais para que o corpo acumule energia, já que está recebendo pouco alimento.2
É importante ressaltar que, embora influenciem na predisposição à obesidade, os fatores genéticos não são determinantes para o desenvolvimento da doença. Fatores modificáveis, como ambientais e comportamentais, são responsáveis pela maior parte dos casos de pessoas com obesidade.3
Fisiologia da obesidade - fatores ambientais e comportamentais envolvidos no desenvolvimento da doença
São fatores evitáveis, ou seja, que não dependem da influência genética. Os principais deles são:3,4
Má alimentação – consumo excessivo de fast food, alimentos e bebidas ultraprocessados e ricos em gorduras e açúcares.3
🗸 Viver, transitar ou ser frequentemente exposto a propagandas e comércio de alimentos não saudáveis contribui para a má alimentação da população, principalmente em centros urbanos.3
Sedentarismo – o estilo de vida sedentário moderno, em que grande parte da população passa muito tempo em frente a telas e/ou vive em regiões de risco para a prática de exercícios físicos, contribui para a incidência da obesidade.3,4
🗸 Crianças menores de três anos e que assistem a mais de duas horas de televisão por dia tendem a desenvolver excesso de peso.3
Fatores emocionais e psicológicos – estresse e transtornos psiquiátricos, como ansiedade, compulsão alimentar, depressão, entre outros, influenciam a forma que a pessoa lida com a prática de exercícios físicos, atividades de lazer ao ar livre e preparo de alimentos saudáveis.3
🗸 Estudos mostraram que algumas pessoas tendem a comer mais quando são afetadas por transtornos como ansiedade e depressão.3
Comportamentos pré-natais – crianças cujas mães fumaram na gravidez ou são diabéticas têm mais chances de desenvolver obesidade ao longo dos anos.3,4
Aleitamento materno insuficiente – crianças que foram amamentadas somente até os três meses têm mais chances de desenvolver obesidade ao longo dos anos.3
Fisiologia da obesidade – fatores homeostáticos envolvidos no desenvolvimento da doença
O peso do corpo é regulado por uma série de mecanismos controlados em conjunto pelos sistemas neurológico e hormonal. Esses mecanismos dependem diretamente do balanço energético e da ingestão de nutrientes para que funcionem adequadamente e estão envolvidos no controle do apetite e sensação de saciedade. Entenda alguns dos principais elementos dos mecanismos envolvidos na regulação do peso:5
🗸 Hormônios que reduzem o apetite – como a leptina, por exemplo, produzida nas células de gordura;
🗸 Hormônios que provocam a sensação de fome – como a grelina, produzida principalmente no estômago;
🗸 Hormônios que regulam a glicose no organismo – como a insulina, produzida pelo pâncreas;
🗸 Hipotálamo – parte do cérebro responsável por enviar sinais hormonais e neurais para outras estruturas do cérebro, tecido adiposo e trato gastrointestinal.6
Em pessoas com obesidade esse sistema homeostático sofre desequilíbrios, o que explica, inclusive, por que é tão difícil evitar o reganho de peso após dietas e novos hábitos de vida e a relação entre a obesidade e diabetes.2,5 Veja como o desequilíbrio no sistema homeostático pode agir no organismo de uma pessoa com obesidade:
Propensão em ganhar mais peso – a leptina, que é produzida pelas células de gordura, controla o apetite. Porém, o tecido adiposo também produz proteínas inflamatórias, que impedem que o sinal desse hormônio chegue ao cérebro. Assim, quanto mais tecido adiposo uma pessoa tiver, mais proteínas inflamatórias ela produzirá e pior será o controle do apetite. Isso gera um ciclo vicioso, que estimula a ingestão exagerada de alimentos e o ganho de peso.2
Propensão a desenvolver diabetes – cerca de 80% a 90% das pessoas que desenvolvem o diabetes tipo 2 possuem obesidade. A relação entre obesidade e diabetes pode ser explicada pelo fato de que o tecido adiposo, quando aumentado, produz substâncias que dificultam o trabalho do organismo em captar a glicose e transformá-la em energia. Ou seja, há uma resistência à insulina.2
Propensão ao reganho de peso – quando uma pessoa com obesidade perde peso por meio de uma dieta, por exemplo, o organismo sofre algumas adaptações para compensar a perda. As principais delas são:2,5
🗸 Diminuição no gasto de energia, deixando o metabolismo mais lento;
🗸 Resistência ao hormônio leptina, reduzindo a sensação de saciedade;
🗸 Aumento da produção de grelina, hormônio que provoca fome.2,5
Então, como garantir a manutenção do peso?
Devido aos fatores homeostáticos envolvidos na fisiologia da obesidade, evitar o reganho de peso durante o tratamento da obesidade, ao longo dos anos, muitas vezes não depende apenas de mudanças de hábito. Além da dieta equilibrada e exercícios físicos, que devem ser considerados tratamentos para toda a vida, podem ser necessários tratamentos que modifiquem os fatores homeostáticos para a obesidade:5
É importante ressaltar que nenhuma estratégia é capaz de tratar a obesidade isoladamente. Por ser uma doença crônica e multifatorial, o tratamento deve ser contínuo e baseado em um conjunto de estratégias, acompanhadas por uma equipe multidisciplinar - médico, nutricionista, educador físico, psicólogo, entre outros profissionais.5
BR21OB00075 - Nov./2021
Referências: 1. National Heart, Lung and Blood Institute. Overweight and Obesity. https://www.nhlbi.nih.gov/health-topics/overweight-and-obesity#:~:text=Overweight%20and%20obesity%20develop%20over,your%20body%20to%20store%20fat – Acesso em 08/10/2021. 2. Aguiar RS, Manini R. A fisiologia da obesidade: bases genéticas, ambientais e sua relação com o diabetes. ComCiência, Campinas, n.145, fev. 2013. http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-76542013000100003&lng=pt&nrm=iso – Acesso em 08/10/2021. 3. Harvard Health Publishing. Why people become overweight. https://www.health.harvard.edu/staying-healthy/why-people-become-overweight- Acessado em 08/10/2021. 4. Harvard School of Public Health. Obesity Prevention Source. https://www.hsph.harvard.edu/obesity-prevention-source/obesity-causes/. Acesso em 08/10/2021. 5. Greenway FL. Physiological adaptations to weight loss and factors favouring weight regain. Int J Obes (Lond). 2015; 39 (8): 1188-1196. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4766925/. Acesso em 08/10/2021. 6. Sanar. Obesidade: conceito, epidemiologia, fisiopatologia, tipos e danos. https://www.sanarmed.com/obesidade-conceito-epidemiologia-fisiopatologia-tipos-e-danos-colunistas. Acesso em 08/10/2021.