Obesidade é uma doença e requer tratamento especializado
Obesidade é uma doença e requer tratamento especializado

Durante muito tempo, a obesidade carregou o estigma de ser uma “falta de cuidado com o corpo”. A pessoa com a condição era culpabilizada e vista como alguém sem força de vontade para emagrecer. A obesidade era considerada unicamente como um fator de risco para outras doenças, como os problemas cardiovasculares e o diabetes¹.

O reconhecimento da obesidade como doença foi estabelecido em 1948 pela Organização Mundial da Saúde (OMS)², mas, durante muitas décadas, a pessoa com a condição continuou sendo vista como responsável por ela. Mais recentemente, em 2013, a American Medical Association (AMA) reconheceu a obesidade como uma doença e outras importantes entidades na área de saúde seguiram o mesmo caminho³.

 

Obesidade é uma doença e requer tratamento especializado

Segundo a OMS, a obesidade é uma doença metabólica crônica e progressiva, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal que causa prejuízos à saúde. Ela leva ao desenvolvimento de um estado de inflamação constante no organismo, pois o acúmulo excessivo de gordura no tecido adiposo, que é um órgão endócrino, faz com que o corpo produza hormônios e outras substâncias pró-inflamatórias. O excesso de gordura também pode se acumular em outros órgãos, como o fígado e intestino, favorecendo o processo inflamatório⁴.

Esse estado inflamatório pode levar a um descontrole e ao mau funcionamento de hormônios, como, por exemplo, a insulina, predispondo a doenças como o diabetes tipo 2. Ele também pode promover o processo aterosclerótico (acúmulo de placas de gordura no interior das artérias), favorecendo doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC)⁵. Estima-se que a obesidade esteja associada a cerca de 200 complicações, como osteoartrite, apneia, câncer, esteatose hepática, asma, entre outras⁶.

A origem da doença é multifatorial, uma vez que está associada a diversas causas. A sua origem pode ser genética⁷, mas estilo de vida e fatores sociais e ambientais também possuem forte influência no ganho de peso⁸. Outro fator importante são os mecanismos de saciedade. O cérebro de pessoas sem obesidade e o de pessoas com obesidade age de forma diferente aos estímulos causados pelos alimentos. Pesquisas indicam que pessoas com obesidade podem ter uma inflamação no hipotálamo – região do cérebro que atua no controle da fome e no gasto de energia. Desta forma, a leptina, o hormônio que regula a saciedade, não é identificada corretamente pelo organismo, fazendo com que elas sintam mais vontade de comer⁹.

Além disso, outras causas também estão relacionadas ao desenvolvimento ou agravamento da obesidade, como o sedentarismo, o consumo excessivo de calorias e alimentos ultraprocessados, estresse, sono insuficiente, substâncias presentes no ambiente e que impactam funções hormonais, uso de certos medicamentos, ambiente obesogênico - que é um facilitador de escolhas alimentares não saudáveis - e status socioeconômico⁸.

Importância de ser entendida como uma doença

Um em cada quatro brasileiros tem obesidade e mais de metade da população do país está com sobrepeso. São mais de 130 milhões de pessoas com excesso de peso, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)¹⁰. A obesidade atingiu proporções epidêmicas no Brasil e no mundo, visto a quantidade de pessoas afetadas e o seu ritmo anual de crescimento².

 

Obesidade é uma doença e requer tratamento especializado

Entre a população adulta, a incidência de obesidade mais do que dobrou em 17 anos, de acordo com o IBGE¹⁰. Uma estimativa feita pelo Atlas Mundial da Obesidade 2023, publicado pela Federação Mundial de Obesidade (WOF), aponta que 41% dos brasileiros vão apresentar essa condição nos próximos 12 anos¹¹.

O peso excedente é considerado um importante problema de saúde pública, pois afeta mais pessoas do que a desnutrição¹². Reconhecê-lo como doença faz com que mais pesquisas sobre o tema sejam desenvolvidas e, ainda, com que políticas públicas que ajudem no controle de fatores de risco, como a oferta de alimentos ricos em gordura e açúcar, sejam implementadas¹³.

Recentemente, um importante passo foi dado nesse sentido no país. Em outubro de 2022, entrou em vigor o novo padrão de rotulagem de alimentos e bebidas industrializados, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

As embalagens, agora, devem apresentar um selo frontal com um símbolo de lupa, indicando se o alimento possui altos teores de açúcar, gordura e sódio. O objetivo é facilitar a compreensão do consumidor sobre a composição de ingredientes prejudiciais à saúde e auxiliá-lo a fazer escolhas alimentares mais conscientes¹⁴.

Reconhecer a obesidade como uma doença também contribui para reduzir o estigma de que o excesso de peso é resultado apenas de más escolhas comportamentais e falta de vontade de emagrecer¹³.

Entender que o excesso de peso não é culpa do indivíduo abre caminho para a busca de um tratamento duradouro. Além de mudança de hábitos, como alimentar-se de forma balanceada e praticar atividade física com frequência, o médico pode indicar o uso de medicamentos e, em alguns casos, até mesmo a cirurgia bariátrica. Com a ajuda de profissionais da saúde e um tratamento individualizado, é possível perder peso¹⁵.

 

Referências:  1. Conway B, Rene A. Obesity as a disease: no lightweight matter. Obes Rev. 2004 Aug;5(3):145-51. 2. James WPT. WHO recognition of the global obesity epidemic. Int J Obes. 2008 Dec;32 Suppl 7:S120-6. 3. Rosen H. Is obesity a disease or a behavior abnormality? Did the AMA get it right? Mo Med. 2014 Mar-Apr;111(2):104-108. 4. Castoldi A, Souza CN et al. The macrophage switch in obesity development. Front Immunol. 2016 Jan 5;6:637. 5. Gruzdeva O, Borodkina D et al. Localization of fat depots and cardiovascular risk. Lipids Health Dis. 2018 Sep 15;17:218. 6. Yuen M, Kadambi N et al. A systematic review and evaluation of current evidence reveals 236 obesity-associated disorders. The Obesity Society. 2016; T-P-3166. 7. Holm LA, Andersen MK et al. Obesity and genetics. Ugeskr Laeger. 2022 Oct 17;184(42):V06220398. 8. Lin X, Li H. Obesity: epidemiology, pathophysiology, and therapeutics. Front Endocrinol. 2021 Sep 6;12:706978. 9. Sande-Lee S, Velloso LA. Disfunção hipotalâmica na obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab. 2012 Aug 9;56(6):341-350. 10. Pesquisa nacional de saúde: 2019: percepção do estado de saúde, estilos de vida, doenças crônicas e saúde bucal: Brasil e grandes regiões. IBGE 2020. Disponível em https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101764.pdf. Acesso em abril de 2023. 11. Lobstein T, Jackson-Leach R et al. World Obesity Atlas 2023. WOF 2023. Disponível em https://s3-eu-west-1.amazonaws.com/woffiles/World_Obesity_Atlas_2023_Report.pdf. Acesso em abril de 2023. 12. Carneiro MM. The fight against globesity: one size does not fit all. Women & Health. 2021 Nov 9;61(9):829-831. 13. Martins APB. É preciso tratar a obesidade como um problema de saúde pública. Rev Adm Empres. 2018 May-Jun;58(3):337-341. 14. Instrução Normativa-In nº 75, de 8 de outubro de 2020. Estabelece os requisitos técnicos para declaração da rotulagem nutricional nos alimentos embalados. Diário Oficial da União. 9 out 2020. Disponível em https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/instrucao-normativa-in-n-75-de-8-deoutubrode- 2020-282071143. Acesso em abril de 2023. 15. Mendes AA, Ieker ASD et al. Multidisciplinary programs for obesity treatment in Brazil: A systematic review. Rev. Nutr. 2016 Nov-Dec;29(6):867-884.

BR23OB00041 – Maio/2023

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