SOP e obesidade
SOP e obesidade

Uma em cada dez mulheres têm a síndrome do ovário policístico (SOP)1. Trata-se do distúrbio hormonal mais comum entre mulheres em idade reprodutiva. Apesar de muito frequente, é uma doença séria e que precisa de tratamento, afinal é um fator de risco para a infertilidade2-3.

Então, vamos entender por que o problema se desenvolve e quais são suas consequências mais comuns. Os ovários são dois órgãos do sistema reprodutor feminino, responsáveis pela produção dos hormônios sexuais estrogênio e progesterona. A SOP acontece quando pequenos cistos, que são como bolsinhas cheias de líquido, se desenvolvem nos ovários, o que faz com que eles aumentem de tamanho2-4.

Cistos

Os cistos podem levar a um desequilíbrio hormonal e causar diversos sintomas. Os mais comuns são irregularidades na menstruação (atrasos frequentes ou ausência de fluxo), acne, queda de cabelo e crescimento excessivo de pelos no rosto e no corpo2-4.

Já os sintomas mais graves podem incluir excesso de peso e infertilidade. Estima-se que cerca de 70% dos problemas de fertilidade ovulatória estejam relacionados à síndrome do ovário policístico. Além desse problema, mulheres com SOP têm maior taxa de aborto espontâneo e maior risco de diabetes e hipertensão gestacionais. Sem falar na pré-eclâmpsia (combinação de pressão alta com excesso de proteína na urina, que pode colocar a vida da gestante em risco) e em partos prematuros5-6.

Não há consenso sobre a causa exata do problema, mas sabe-se que metade das mulheres com SOP têm problemas hormonais, relacionados à produção de insulina (hormônio que controla o nível de açúcar no sangue) pelo pâncreas4-7.

Boa parte das mulheres também pode apresentar problemas nas glândulas hipotálamo, hipófise (ambas no cérebro) e adrenais (nos rins), o que leva à produção excessiva de hormônios masculinos (hiperandrogenismo). Isso pode dificultar a liberação dos óvulos e causar os sintomas comuns à síndrome. A desregulação desses sistemas está relacionada a fatores genéticos e ambientais4-7.

SOP e obesidade: causa ou consequência

SOP e obesidade: causa ou consequência?

A maioria das mulheres com SOP também tem obesidade. A ligação exata entre as doenças é desconhecida, mas a chave pode ser a resistência à insulina, que acontece quando esse hormônio produzido pelo pâncreas não consegue transformar o açúcar em energia, aumentando o risco de diabetes – mais da metade das mulheres com SOP desenvolvem diabetes tipo 2 antes dos 40 anos8-9-10.

A resistência à insulina afeta entre 50% e 70% das pessoas com SOP e, além disso, há evidências de que a obesidade potencialize esse quadro. Outro aspecto que relaciona obesidade e SOP é que o excesso de peso também agrava o hiperandrogenismo - o excesso de hormônio masculino, de que comentamos anteriormente10.

As consequências da SOP vão além do sistema reprodutivo e podem afetar a saúde metabólica, cardiovascular e psicológica das mulheres. Quem tem SOP tende a apresentar a gordura na região abdominal – um tipo de gordura mais inflamatória e que causa mais problemas à saúde, uma vez que se deposita em torno de órgãos internos, como fígado e intestino10-11.

Com isso, aumenta-se o risco de hipertensão arterial, colesterol alto, apneia do sono, acidente vascular cerebral (AVC), doenças cardíacas e do fígado. Outras condições associadas à doença incluem câncer de endométrio (tecido interno do útero), ansiedade e depressão9-12.

 

Você tem SOP?

Como tratar a SOP

Se você recebeu o diagnóstico de SOP, saiba que existem tratamentos que ajudam a controlar os sintomas da doença. Entre as opções, estão os contraceptivos hormonais orais e medicamentos para diabetes e fertilidade. Porém, o tratamento considerado de “primeira linha” é a mudança de hábitos, como exercícios físicos regulares e alimentação balanceada6.

A redução do peso é um fator que contribui para melhorar os sintomas da SOP, por isso é importante tratar a obesidade. Há evidências de que mesmo uma perda de 5% do peso corporal, sem nenhum outro tipo de tratamento, é suficiente para regular a menstruação e restaurar os ciclos ovulatórios10.

O tratamento da obesidade tem mais chances de sucesso quando é acompanhado por uma equipe multidisciplinar de profissionais qualificados, composta por médico, psicólogo, nutricionista e profissional de educação física, que irão avaliar o seu estado de saúde como um todo e indicar o melhor caminho a ser percorrido6.

Referências:  1. Deswal R, Narwal V et al. The Prevalence of Polycystic Ovary Syndrome: A Brief Systematic Review. J Hum Reprod Sci. 2020 Oct-Dec;13(4):261-271. 2. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). A obesidade feminina e as consequências na saúde ginecológica. Disponível em https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1514-a-obesidade-feminina-easconsequencias-na-saude-ginecologica. Acesso em agosto de 2023. 3. National Heart, Lung and Blood Institute (NIH). Obesity and Women's Health. Disponível em https://www.nhlbi.nih.gov/health/overweight-and-obesity/women. Acesso em agosto de 2023. 4. Ministério da Saúde. Síndrome dos ovários policísticos. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/sindrome-dos-ovarios-policisticos/. Acesso em agosto de 2023. 5. Cunha A, Póvoa AM. Infertility management in women with polycystic ovary syndrome: a review. Porto Biomed J. 2021 Jan 26;6(1):e116. 6. Ministério da Saúde. Protocolo clínico e diretriz terapêuticas da síndrome de ovários policísticos. Disponível em https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/publicacoes_ms/pcdt_sndrome-ovrios-policsticos_isbn.pdf. Acesso em agosto de 2023. 7. Deswal R, Narwal V et al. The Prevalence of Polycystic Ovary Syndrome: A Brief Systematic Review. J Hum Reprod Sci. 2020 Oct-Dec;13(4):261-271. 8. Templeton A. Obesity and Women's Health. Facts Views Vis Obgyn. 2014;6(4):175-6. 9. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). PCOS (Polycystic Ovary Syndrome) and Diabetes. Disponível em https://www.cdc.gov/diabetes/basics/pcos.html. Acesso em agosto de 2023. 10. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Síndrome dos ovários policísticos. Disponível em https://abeso.org.br/wp-content/uploads/2019/12/66.pdf. Acesso em agosto de 2023. 11. Gruzdeva O, Borodkina D et al. Localization of fat depots and cardiovascular risk. Lipids Health Dis. 2018 Sep; 17:218. 12. World Health Organization (WHO). Polycystic ovary syndrome. Disponível em https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/polycystic-ovary-syndrome. Acesso em agosto de 2023.

BR23OB00150 – outubro/2023